Territórios Negros Patrimônio e Educação na Pequena África

Sobre o projeto

A Pequena África é uma parte da área central da Cidade do Rio de Janeiro, assim denominada por Heitor dos Prazeres no início do século XX em virtude da forte presença negra. Tal área e seus patrimônios vem, nas últimas décadas, sendo objeto de disputa e valorização por parte de ativistas e movimentos negros, que buscam através da ativação de memórias (de personagens, de sociabilidades, de práticas culturais, econômicas, etc.) reconstituir as representações sobre a participação negra na história do Rio de Janeiro. É neste sentido que patrimônios arquitetônicos, arqueológicos, culturais, entre outros, vêm sendo identificados, salvaguardados, valorizados e utilizados em práticas e ações — como circuitos turísticos, ações educativas e culturais, pesquisas — que ressignificam história e território na Pequena África.

Desde o tombamento da Pedra do Sal como patrimônio pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural na década de 1980, diversos outros elementos (materiais e imateriais) do território vem sendo reivindicados e/ou reconhecidos como patrimônios, como o Cemitério dos Pretos Novos, o Quilombo da Pedra do Sal, e o Cais do Valongo (este último, reconhecido pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade), a criação do Circuito Histórico e Arqueológico de Celebração da Herança Africana pelo Decreto municipal 34.803/2011, e a criação do Circuito Histórico e Arqueológico da Pequena África pela Lei n° 8105/18. Mais do que isso, atores locais, pesquisadores e movimentos negros vem reivindicando tal região como espaço de memórias negras, berço do samba, de celebração e culto de religiões de matriz africana, de redes de sociabilidade e lutas urbanas (como a Revolta da Vacina), evidenciando o território como tecido sociopolítico ativo no passado e no presente.

Neste sentido, o projeto “Territórios Negros: Patrimônio e Educação na Pequena África” visa contribuir para a ampliação destes debates, tendo como objetivo consolidar e valorizar a produção, teórica e prática, de profissionais e acadêmicos da Arquitetura e Urbanismo, bem como outros profissionais e agentes interessados na área de patrimonialização na zona portuária do Rio de Janeiro. O caráter dialógico do projeto se expressa na associação entre o INSTITUTO 215, uma organização voltada para ações de cultura urbana contemporânea, um agente local do território, o Museu da História e da Cultura Afrobrasileira (MUHCAB) — que já atua nos processos de valorização e disseminação do patrimônio da região — e o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Geografia, Relações Raciais e Movimentos Sociais (NEGRAM/IPPUR/UFRJ) especializado no debate das relações e espacializações das diferenças raciais na cidade. Esta ação de colaboração serve como uma ponte entre a produção teórica e a práxis no território.